12.4.08

Pense nisso...

carros volta mundo





"A filosofia em um século é o senso comum do próximo"





(frase de biscoito chinês)

23.3.08

O fim da televisão

Após ler, atenta e criticamente, o texto abaixo (retirado do blog "O fim da Várzea - blogs, internet, opinião e mau humor") faça sua análise a respeito do parágrafo abaixo negritado.



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O fim da televisão

Assisto muito pouco à televisão, e geralmente apenas o trash. Cancelei a TV por assinatura, depois de anos assistindo a infinitas reprises (desconfio que eles mantêm um convênio com as locadoras de DVD, recebendo um por fora para exibir apenas lixo nos finais-de-semana).

Ontem à noite, em mais uma insônia típica de domingo, estava zapeando pela TV aberta e, entre sessões de exorcismo e comerciais de 30 minutos sobre aparelhos de ginástica que até trocar pneu trocam, acabei acompanhando uma parte do Big Brother, que me fez questionar até que ponto pode descer a falta de qualidade da programação.

Os "confinados" haviam ganhado um almoço patrocinado por uma marca de suco obscura e deliciavam-se com uma refeição digna de loja de conveniência, daquelas que você aquece por 1 minuto e sofre de indigestão por uma semana.

Gyselle, a moça que "deu certo" na França e no Brasil, não sabe nem segurar os talheres, o tal Marcão segura-os como se fossem ferramentas e mastiga como se tivesse passado a vida na selva.

Isso parece fútil, mas os modos à mesa dizem muito de uma pessoa. No caso em questão, só confirma o que já havia sido mostrado em outro dia, quando Pedro Bial pergunta se eles conheciam a resposta do enigma da Esfinge e todos demonstram total ignorância, tanto da resposta quanto da origem da pergunta.

Reality shows são sobre pessoas comuns, eu sei disso. Mas parece que não basta mais ser comum, tem que ser superficial e ignorante.

Segundo li em algum lugar, a Globo já pensa em mudar a fórmula, visivelmente esgotada, na próxima edição. Pensam em mesclar pessoas de diferentes faixas etárias, fugindo do formato loira(o) burra(o).

Mas fugirão do nivelamento cultural rasteiro?

É fácil dizer que o povo desse País é inculto e incapaz de apreciar algo mais sofisticado. Eu mesmo acredito nisso. Mas não seria hora de fazer algo para mudar esse cenário?


Alguém que só come miojo é incapaz de apreciar algo mais sofisticado? Talvez sim, mas é preciso oferecer opções variadas, ao longo do tempo, o gosto melhora.

Quem acompanhou o Jô Soares no início de seu talk show no SBT lembra que era um programa memorável. Pessoas com conteúdo passavam por lá e o humor era genuíno. Quando a platéia fazia "ahhhh" no final de uma entrevista, era merecido, e digno de nota.


A pasteurização da programação está se revelando um tiro no pé por parte das emissoras. Incentivar a favelização da audiência não me parece um negócio lucrativo. Você gostaria de anunciar seu produto para quem não pode comprá-lo?


A TV pode ser útil na "educação" de um povo. Instigar novas idéias pode gerar frutos, inclusive a curto prazo.

Ou, muito em breve, veremos pessoas comendo com as mãos e comunicando-se por mímica. Quem viver verá.

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Fonte: http://www.ofimdavarzea.com/o-fim-da-televisao/

23.2.08

UMA MENSAGEM A GARCIA





por Elbert Hubbard

Esta insignificância literária, UMA MENSAGEM A GARCIA, escrevi-a uma noite, depois do jantar, em uma hora. Foi a 22 de fevereiro de 1899, aniversário natalício de Washington, e o número de março da nossa revista "Philistine" estava prestes a entrar no prelo. Encontrava-me com disposição de escrever, e o artigo brotou espontâneo do meu coração, redigido, como foi, depois de um dia afanoso, durante o qual tinha procurado convencer alguns moradores um tanto renitentes do lugar, que deviam sair do estado comatoso em que se compraziam, esforçando-se por incutir-lhes radioatividade.

A idéia original, entretanto, veio-me de um pequeno argumento ventilado pelo meu filho Bert, ao tomarmos café, quando ele procurou sustentar ter sido Rowan o verdadeiro herói da Guerra de Cuba. Rowan pôs-se a caminho só e deu conta do recado - levou a mensagem a Garcia. Qual centelha luminosa, a idéia assenhoreou-se de minha mente. É verdade, disse comigo mesmo, o rapaz tem toda a razão, o herói é aquele que dá conta do recado que leva a mensagem a Garcia.

Levantei-me da mesa e escrevi "Uma mensagem a Garcia" de uma assentada. Entretanto liguei tão pouca importância a este artigo, que até foi publicado na Revista sem qualquer título. Pouco depois da edição ter saído do prelo, começaram a afluir pedidos para exemplares adicionais do número de Março do "Philistine": uma dúzia, cinquenta, cem, e quando a American News Company encomendou mais mil exemplares, perguntei a um dos meus empregados qual o artigo que havia levantado o pó cósmico.

- "Esse de Garcia" - retrucou-me ele.

No dia seguinte chegou um telegrama de George H. Daniels, da Estrada de Ferro Central de Nova York, dizendo: "Indique preço para cem mil exemplares artigo Rowan, sob forma folheto, com anúncios estrada de ferro no verso. Diga também até quando pode fazer entrega ".

Respondi indicando o preço, e acrescentando que podia entregar os folhetos dali a dois anos. Dispúnhamos de facilidades restritas e cem mil folhetos afiguravam-se-nos um empreendimento de monta.

O resultado foi que autorizei o Sr. Daniels a reproduzir o artigo conforme lhe aprouvesse. Fê-lo então em forma de folhetos, e distribuiu-os em tal profusão que, duas ou três edições de meio milhão se esgotaram rapidamente. Além disso, foi o artigo reproduzido em mais de duzentas revistas e jornais. Tem sido traduzido, por assim dizer, em todas as línguas faladas.

Aconteceu que, justamente quando o Sr. Daniels estava fazendo a distribuição da Mensagem a Garcia, o Príncipe Hilakoff, Diretor das Estradas de Ferro Russas, se encontrava neste país. Era hóspede da Estrada de Ferro Central de Nova York, percorrendo todo o país acompanhando o Sr. Daniels. O príncipe viu o folheto, que o interessou, mais pelo fato de ser o próprio Sr. Daniels quem o estava distribuindo em tão grande quantidade, que propriamente por qualquer outro motivo.

Como quer que seja, quando o príncipe regressou à sua Pátria mandou traduzir o folheto para o russo e entregar um exemplar a cada empregado de estrada de ferro na Rússia. O breve trecho foi imitado por outros países; da Rússia o artigo passou para a Alemanha, França, Turquia, Hindustão e China. Durante a guerra entre Rússia e o Japão, foi entregue um exemplar da "Mensagem a Garcia" a cada soldado russo que se destinava ao front.

Os japoneses, ao encontrar os livrinhos em poder dos prisioneiros russos, chegaram à conclusão que havia de ser cousa boa, e não tardaram em vertê-lo para o japonês. Por ordem do Mikado foi distribuído um exemplar a cada empregado, civil ou militar do Governo Japonês.

Para cima de quarenta milhões de exemplares de "Uma Mensagem a Garcia" têm sido impressos, o que é sem dúvida a maior circulação jamais atingida por qualquer trabalho literário durante a vida do autor, graças a uma série de circunstâncias felizes. - E. H.




East Aurora, dezembro 1, 1913


Uma mensagem a Garcia

Em todo este caso cubano, um homem se destaca no horizonte de minha memória como o planeta Marte no seu periélio. Quando irrompeu a guerra entre a Espanha e os Estados Unidos, o que importava a estes era comunicar-se rapidamente com o chefe dos insurretos. Garcia, que se sabia encontrar-se em alguma fortaleza no interior do sertão cubano, mas sem que se pudesse precisar exatamente onde. Era impossível se comunicar com ele pelo correio ou pelo telégrafo. No entanto, o Presidente tinha que tratar de se assegurar da sua colaboração, e isto o quanto antes. Que fazer?
Alguém lembrou ao Presidente: “Há um homem chamado Rowan; e se alguma pessoa é capaz de encontrar Garcia, há de ser Rowan”.

Rowan foi trazido à presença do Presidente, que lhe confiou uma carta com a incumbência de entregá-la a Garcia. De como este homem, Rowan, tomou a carta, meteu-a num invólucro impermeável, amarrou-a sobre o peito, e após quatro dias, saltou, de um barco sem coberta, alta noite, nas costas de Cuba; de como se embrenhou no sertão, para, depois de três semanas, surgir do outro lado da ilha, tendo atravessado a pé um país hostil e entregando a carta a Garcia - são coisas que não vêm ao caso narrar aqui pormenorizadamente. O ponto que desejo frisar é este: O presidente Mac Kinley deu a Rowan uma carta para ser entregue a Garcia; Rowan pegou da carta e nem sequer perguntou: Onde é que ele está?

Hosannah! Eis aí um homem cujo busto merecia ser fundido em bronze imarcescível e sua estátua colocada em cada escola do país. Não é de sabedoria livresca que a juventude precisa, nem de instrução sobre isto ou aquilo. Precisa, sim, de um endurecimento das vértebras, para poder se mostrar altivo no exercício de um cargo; para atuar com diligência, para dar conta de recado; para, em suma, levar uma mensagem a Garcia.

O General Garcia já não é deste mundo, mas há outros Garcias. A nenhum homem que se tenha empenhado em levar avante uma empresa, em que a ajuda de muitos se torne precisa, têm sido poupados momentos de verdadeiros desespero ante a imbecilidade de grande número de homens, ante a inabilidade ou falta de disposição de concentrar a mente numa determinada coisa e fazê-la.

Assistência irregular, desatenção tola, indiferença irritante e trabalho malfeito parecem ser a regra geral. Nenhum homem pode ser verdadeiramente bem-sucedido, salvo se lançar mão de todos os meios ao seu alcance, quer da força, quer do suborno, para obrigar outros homens a ajudá-lo, a não ser que Deus Onipotente, na sua grande misericórdia, faça um milagre, enviando-lhe como auxiliar um anjo de luz.

Meu amigo, tu mesmo podes tirar a prova. Estás sentado no teu escritório, rodeado de meia dúzia de empregados. Pois bem, chama um deles e pede-lhe: “Queira ter a bondade de consultar a enciclopédia e de me fazer uma descrição sucinta da vida de Corregio”.

Dar-se-á o caso do empregado dizer calmamente: “Sim, Senhor”, e executar o que se lhe pediu?

Nada disso! Olhar-te-á perplexo e de soslaio para fazer uma mais das seguintes perguntas:
Quem é ele?
Que enciclopédia?
Onde é que está a enciclopédia?
Fui eu acaso contratado para fazer isso?
Não quer dizer Bismark?
E se Carlos o fizesse?
Já morreu?
Precisa disso com urgência?
Não será melhor que eu traga o livro para que o senhor mesmo procure o que quer?
Para que quer saber isso?

E aposto dez contra um que, depois de haveres respondido a tais perguntas, e explicado a maneira de procurar os dados pedidos e a razão por que deles precisas, teu empregado irá pedir a um companheiro que o ajude a encontrar Garcia e depois voltará para te dizer que tal homem não existe. Evidentemente, pode ser que eu perca a aposta; mas, segundo a lei das médias, jogo na certa. Ora, se fores prudente, Não te darás ao trabalho de explicar ao teu “ajudante” que Corregio se escreve com “C” e não com “K”, mas limitar-te-ás a dizer meigamente, esboçando o melhor sorriso: “Não faz mal; não se incomode”, e, dito isto. levantar-te-ás e procurarás tu mesmo.


E esta incapacidade de atuar independentemente, esta inépcia moral, esta invalidez da vontade, esta atrofia de disposição de solicitamente se pôr em campo a agir - são as coisas que recuam para um futuro tão remoto o advento do socialismo puro. Se os homens não tomem a iniciativa de agir em seu próprio proveito, que farão quando o resultado de seu esforço redundar em benefício de todos? Por enquanto parece que os homens ainda precisam de ser feitorados. O que mantém muito empregado no seu posto e o faz trabalhar é o medo de, se não o fizer, ser despedido no fim do mês. Anuncia precisar de um taquígrafo, e nove entre dez candidatos à vaga não saberão ortografar nem pontuar - e, o que é mais, pensam que não é necessário sabê-lo.


Poderá uma pessoa destas escrever uma carta a Garcia?
“Vê aquele guarda-livros”, dizia-me o chefe de uma grande fábrica.
“Sim, que tem?”
“É um excelente guarda-livros. Contudo, se eu o mandasse fazer um recado, talvez desobrigasse da incumbência a contendo, mas também podia muito bem ser que o caminho entrasse em duas ou três casa de bebidas, e, que, quando chegasse ao seu destino, já não se recordasse da incumbência que lhe fora dada”.

Será possível confiar-se a um tal homem uma carta para entregá-la a Garcia?


Ultimamente temos ouvido muitas expressões sentimentais, externando simpatia para com os pobres entes que mourejam de sol a sol, para com os infelizes desempregados à cata do trabalho honesto, e tudo isto, quase sempre, entremeado de muita palavra dura para com os homens que estão no poder.


Nada se diz do patrão que envelhece antes do tempo, num baldado esforço para induzir eternos desgostosos e descontentes a trabalhar concienciosamente; nada se diz de sua longa procura de pessoal, que, no entanto, muitas vezes nada mais faz do que “matar o tempo”, logo que ele volta as costas. Não há empresa que não esteja despedindo pessoal que se mostra incapaz de zelar pelos seus interesses, a fim de substituí-lo por outro mais apto. Este processo de seleção por eliminação está se operando incessantemente, em termos adversos, com a única diferença que, quando os tempos são maus e o trabalho escasseia, a seleção se faz mais escrupulosamente, pondo-se fora, para sempre, os incompetentes e os inaproveitáveis. É a lei de guardar os melhores - aqueles que podem levar uma mensagem a Garcia.


Conheço um homem de aptidões realmente brilhantes, mas sem a fibra precisa para gerir um negócio próprio e que ademais se torna completamente inútil para qualquer outra pessoa devido à suspeita insana que constantemente abriga de que seu patrão o esteja oprimindo ou tencione oprimi-lo. Sem poder mandar, não tolera que alguém o mande. Se lhe fosse confiada uma mensagem a Garcia, retrucaria provavelmente: “Leve-a você mesmo”.


Hoje este homem perambula errante pelas ruas em busca de trabalho, em quase petição de miséria. No entanto, ninguém que o conheça se aventura a lhe dar trabalho porque é a personificação do descontentamento e do espírito de réplica. Refratário a qualquer conselho ou admoestação, a única coisa capaz de nele produzir algum afeito seria um bom pontapé dado com a ponta de uma bota número 42, sola grossa e bico largo.


Sei, não resta dúvida, que um indivíduo moralmente aleijado como este não é menos digno de compaixão que um fisicamente aleijado. Entretanto, nesta demonstração de compaixão, vertamos também uma lágrima pelos homens que se esforçam por levar avante uma grande empresa, cujas horas de trabalho não estão limitadas pelo som do apito e cujos cabelos ficam prematuramente encanecidos na incessante luta em que estão empenhados contra a indiferença desdenhosa, contra a imbecilidade crassa e a ingratidão atroz, justamente daqueles que, sem o seu espírito empreendedor, andariam famintos e sem lar.


Dar-se-á o caso de eu ter pintado a situação em cores demasiado carregadas? Pode ser que sim; mas, quando todo o mundo se apraz em divagações, quero lançar uma palavra de simpatia ao homem que imprime êxito a um empreendimento, ao homem que, a despeito de uma porção de empecilhos, sabe dirigir e coordenar os esforços de outros, e que, após o triunfo, talvez verifique que nada ganhou; nada, salvo a sua mera subsistência.


Também eu carreguei marmitas e trabalhei como jornaleiro, como, também, tenho sido patrão. Sei, portanto, que alguma coisa se pode ambos os lados.
Não há excelência na pobreza de per se; farrapos não servem de recomendação. Nem todos os patrões são gananciosos e tiranos, da mesma forma que nem todos os pobres são virtuosos.


Todas as minhas simpatias pertencem ao homem que trabalha concienciosamente, quer o patrão esteja, quer não. E o homem que, ao lhe ser confiado uma carta para Garcia, tranqüilamente toma a missiva, sem fazer perguntas idiotas e sem a intenção oculta de jogá-la na primeira sarjeta que encontrar, ou praticar qualquer outro feito que não seja entregá-la ao destinatário; este homem nunca fica “encostado” nem tem que se declarar em greve para forçar um aumento de ordenado.


A civilização busca ansiosa, insistentemente, homens nestas condições. Tudo que um tal homem pedir, se lhe há de acontecer. Precisa-se dele em cada cidade, em cada vila, em cada lugarejo, em cada escritório, em cada oficina, em cada loja, fábrica ou venda. O grito do mundo inteiro praticamente se resume nisso: Precisa-se, e precisa-se com urgência, de um homem capaz de levar uma mensagem a Garcia.

19.2.08

Conteúdo do SBT


Entrevista exibida ao vivo no dia 17 de agosto de 2007 pela TV Plan, afiliada da TVE Brasil em Poços de Caldas, MG.
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Assista ao vídeo com a entrevista do ex-diretor de Jornalismo do SBT, Luiz Gonzaga Mineiro, falando sobre a postura de Sílvio Santos, e, em seguida, faça um breve comentário escrito com sua análise crítica (argumentada).

8.2.08

Notícias do carnaval








NOTÍCIA A: São Clemente é punida por desfilar com mulher nua


Da Redação

A escola de samba São Clemente recebeu punição de meio ponto na avaliação de seu desfile pela Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa) por desfilar com uma mulher nua dentre os seus integrantes. Com 387,5 pontos, a São Clemente foi a 12ª colocada no Carnaval carioca, e foi rebaixada para a divisão de acesso em 2009. A modelo Viviane Castro (foto), 25, foi à avenida usando um tapa-sexo de 4 cm, e precisou colar novamente o adereço durante o desfile. A comissão julgadora da Liesa comunicou a punição no início da apuração dos quesitos na tarde desta quarta-feira, 6, no Rio de Janeiro. A modelo foi um dos destaques de chão da escola que desfilou o enredo "O Clemente João 6º no Rio: A Redescoberta do Brasil...". Além do pequeno tapa-sexo, ela usava apenas adereços nas costas e na cabeça, e maquiagem por todo o corpo.
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30/01/2008 - 23h01
NOTÍCIA B : Justiça mantém distribuição da pílula do dia seguinte em PE
por FÁBIO GUIBU
da Agência Folha

O juiz da 7ª Vara da Fazenda Pública de Recife, José Viana Ulisses Filho, negou nesta quarta-feira o pedido de liminar contra a distribuição da pílula do dia seguinte durante o Carnaval feito pela Aduseps (Associação de Defesa dos Usuários de Seguros, Planos e Sistemas de Saúde), com o apoio da Arquidiocese de Olinda e Recife.


Na sua decisão, Ulisses Filho afirmou que "em nenhum momento" a associação comprovou que o medicamento é abortivo --um dos fundamentos para o pedido de liminar. Ao contrário, disse o juiz, a documentação apresentada "assevera que a droga a ser utilizada é cientificamente considerada contraceptiva, e não abortiva".

Ulisses Filho lembrou também que a pílula não será distribuída aleatoriamente no Carnaval, mas apenas para "mulheres vítimas de abusos sexuais ou de acidentes verificados no uso das camisinhas".

Na sentença, válida apenas para Recife, o juiz afirmou que as opiniões religiosas condenando os métodos anticoncepcionais sem respaldo científico são "irrelevantes". "A República Federativa do Brasil é um estado laico e não uma teocracia."

A pressão da Igreja, entretanto, continua. Hoje, em nota assinada pelo bispo auxiliar do Rio de Janeiro, dom Antônio Augusto Dias Duarte, a Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) afirmou que "o uso da pílula do dia seguinte é moralmente inaceitável".

Segundo a nota, a ingestão do medicamento "nas primeiras 72 horas após a concepção provoca, na verdade, um aborto químico, tão gravemente imoral quanto o aborto cirúrgico".


A entidade afirmou ainda que o arcebispo de Recife e Olinda, dom José Cardoso Sobrinho, "é movido por zelo pastoral e por fundamentadas motivações éticas" ao criticar a distribuição do anticoncepcional. "Sua iniciativa merece todo o nosso apoio."

A coordenadora-executiva da Aduseps, Renê Patriota, afirmou que recorrerá da decisão. Ela disse ainda que ingressará com ações semelhantes contra as prefeituras de Olinda e Paulista, que também distribuirão a pílula durante o Carnaval.

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31/01/2008 - 15h55
Notícia C: Justiça proíbe carro alegórico que faz alusão ao Holocausto no Rio


http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u368623.shtml

A Justiça do Rio proibiu nesta quinta-feira a escola de samba Viradouro de desfilar com um carro alegórico que faz alusão ao Holocausto. O carro apresenta vários corpos empilhados em alusão aos campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

O pedido de proibição foi feito pela Fierj (Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro) durante o plantão judiciário (das 18h às 11h) e acatado pela juíza Juliana Kalichsztein. Em sua decisão, a juíza impõe multa de R$ 200 mil para a escola se o carro desfilar.

Segundo o advogado Ricardo Brajterman, da Fierj, a federação já havia tentado, em conversas anteriores, convencer a Viradouro a desistir da idéia ou colocar uma mensagem de advertência, como "Holocausto nunca mais" no carro. "Mas a escola silenciou", disse Brajterman.

"Por volta das 23h ficamos sabendo que o carro traria um destaque vestido de [Adolf] Hitler. Imagine Hitler sambando à frente dos judeus e poloneses e outras vítimas do Holocausto mortas", disse o advogado. "O Carnaval é uma festa sensual. Não é o espaço certo para a discussão desse tema".
A decisão da juíza também prevê multa de mais R$ 50 mil se algum membro da escola entrar na avenida vestido de Hitler.

O desfile da Viradouro, "É de arrepiar", estava previsto para levar à avenida oito carros, segundo a sinopse dos desfiles divulgada pela Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba do Rio). Além do Holocausto, os carros trariam temas supostamente ligados ao arrepio, como o frio, o nascimento e o Kama Sutra --tema de um carro que viria antes do carro sobre a matança de judeus--, e baratas, que viria depois.

A reportagem entrou em contato com a Viradouro em cinco número de telefone diferentes, mas os recados não foram respondidos até a tarde de hoje.


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veja aqui Liminar da Juiza contra passistas vestidos de Hitler

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04/02/2008 - 05h30
Notícia D : Viradouro protesta e leva arrepios à Sapucaí durante desfile


da Folha Online

A Viradouro, última escola a desfilar na primeira noite do Grupo Especial do Rio, protestou contra a decisão da Justiça de barrar um dos carros alegóricos que fazia alusão ao Holocausto e provocou arrepios no público da Marquês de Sapucaí ao levar à avenida uma pista de ski de 9 metros de altura, abastecida por 26 toneladas de gelo trituradas momentos antes da exibição. Na pista, atletas da CBDN (Confederação Brasileira dos Desportos de Neve) se apresentaram com pranchas de snowboard.

Antes da Viradouro, desfilaram a São Clemente, a Porto da Pedra, a Salgueiro, a Portela e a Mangueira. Confira a cobertura completa do Carnaval na Folha Online.

Com o enredo "É de arrepiar", a segunda alegoria da Viradouro, a do arrepio do cabelo, remeteu ao castelo de Edward, personagem de "Edward, Mãos de Tesoura", produção assinada pelo diretor de cinema Tim Burton. Um imenso salão de beleza e personagens urbanos como punks também foram representados.

O terceiro setor abordou o arrepio da paixão --da amizade, passando pelo toque nas mãos, beijo na boca, paixões, até insinuações de sexo. Uma imensa cama representou o Kama Sutra (manual indiano de posições sexuais).

A alegoria referente ao nascimento contou com a escultura de um bebê gigante segurado pelos pés, de cabeça para baixo. A escola fez ainda uma ala com referência a obra Escafandro, de Leonardo da Vinci, referência à letra "Trenzinho Caipira", de Villa Lobos, e à obra O Espantalho, de Portinari.

Em outro setor, a escola retratou insetos repugnantes --como baratas e aranhas--, além de ratos e cobras. Personagens que ganharam as telas de cinema, como Fred Krueger, Chucky e o demônio do filme "O Exorcista", também foram lembrados pela Viradouro como criaturas que causaram arrepios.

Encerrando o desfile, a Viradouro fez Cartola pisar na Sapucaí. A escola trouxe ainda uma de suas mais conhecidas obras, "As Rosas Não Falam", na intenção de provocar o arrepio da saudade no público.


Repugnância



A Viradouro pretendia mostrar o arrepio da repugnância, mas teve de mudar a proposta por ordem judicial.

Inicialmente, dentro do contexto do enredo, falaria do Holocausto tendo a figura de Adolf Hitler à frente do carro. Em cima da alegoria estavam corpos sobrepostos e objetos que remetiam a um campo de extermínio de judeus.

Atendendo a um pedido da Fierj (Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro), a juíza Juliana Kalichsztein proibiu a escola a desfilar com o carro. Agora, mostrou uma alegoria adaptada, que abordou a liberdade de expressão.

O carro entrou no sambódromo com componentes vestidos de branco e amordaçados. Sobre eles, a figura de Tiradentes. O carro ainda tinha faixas. Uma dizia "Liberdade ainda que tardia", e outra "Não se constrói o futuro enterrando a história".

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1/2/2008 01:26:00

Notícia E : Choro pelo Holocausto


Viradouro muda alegoria que representaria extermínio dos judeus na Segunda Guerra e traria Hitler, devido à decisão judicial que proibiu o carro. Escola vai abordar liberdade de expressão


Rio - A Viradouro entrará na Avenida sem o polêmico carro do Holocausto. A decisão foi tomada depois que a Federação Israelita do Rio conseguiu liminar da Justiça impedindo a utilização da alegoria no desfile. A entidade, que tentava por meio do diálogo demover a escola da idéia de representar o extermínio dos judeus na Segunda Guerra, mudou de idéia depois que soube através de O DIA que o carro teria representação do ditador nazista Adolf Hitler como destaque, em cima da pilha de corpos nus e esqueléticos. A decisão levou o carnavalesco Paulo Barros às lágrimas.

O carro, que custou R$ 400 mil, foi desmontado ontem. No lugar da alegoria, outra fará uma crítica velada à decisão da Justiça, abordando o tema da execução do direito de expressão. “Não digo que foi uma censura, mas a nossa intenção foi cerceada, de certa forma”, afirmou o presidente da Viradouro, Marco Lira.

Ele não adianta como será o novo carro, mas informa que abordará limitações da expressão somente no Brasil. “O direito de expressão que nós vamos retratar vai ser focado diretamente no nosso povo”, resume. Lira sugere que a alegoria deve tratar de temas como violência, ditadura e escravidão.

O presidente da escola disse que não faria nenhum tipo de apelação para derrubar a liminar. A decisão da juíza Juliana Kalichsztein indica que “nenhuma ferramenta de culto ao ódio” deve ser usada. O advogado da federação, Ricardo Brajterman, alegou “vilipêndio do sentimento religioso” para barrar a alegoria. “A federação queria que o carro viesse com uma faixa: Holocausto nunca mais, mas eles não aceitaram”.

O presidente da federação, Sérgio Niskier, que já havia manifestado preocupação com o carro, como noticiou O DIA no dia 18, aplaudiu a decisão: “Colocar um homem fantasiado de Hitler no alto do carro seria abuso ainda maior”.

COMEÇAR DO ZERO

A 72 horas do Carnaval, a Viradouro terá de começar do zero um novo carro. Paulo Barros disse que amanhã a alegoria estará pronta. Se o setor do Holocausto não fosse substituído, a Viradouro teria sete carros. O mínimo exigido pela Liga Independente das Escolas de Samba é cinco.

O presidente da Liesa, Jorge Castanheira, diz que a substituição da alegoria não prejudica a escola. “Basta que a escola envie, antes do desfile, errata para encaminharmos aos julgadores”, explicou. Barros contou que pretendia levar um Hitler arrependido para a Avenida. “O Corintho, que desfilaria no carro representando Hitler, ia fazer uma interpretação de culpa”, disse, referindo-se ao empresário Corintho Rodrigues.

A Sapucaí já foi cenário de outras polêmicas. Em 1989, o Cristo mendigo do carnavalesco Joãosinho Trinta, do enredo ‘Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia’, teve que ser coberto. Ele viveu situação parecida em 2004, na Grande Rio, quando retrataria posições sexuais do Kama Sutra.

Israel condenou a alegoria

O governo israelense, através de sua embaixada, também se posicionou de forma contrária à exibição de alegoria sobre Holocausto na Avenida. Segundo o primeiro-secretário, Rafael Singer, o tema não se restringe à comunidade judaica, mas à Humanidade, e o Carnaval não é data adequada para a reflexão. “Achamos importante o tema do Holocausto ser tocado em qualquer lugar, mas misturar com Carnaval é inadequado”, afirmou.

Singer defende a abordagem do Holocausto como forma de educar os mais jovens contra o risco do nazismo. “O Holocausto não é um crime contra os judeus, mas contra a Humanidade”.

O Centro Simon Wiesenthal, grupo internacional judaico de defesa dos direitos humanos, pronunciou-se contra a utilização do Holocausto no Carnaval do Rio. O temor da instituição era de que o desfile da escola profanasse a memória do Holocausto.

O grupo, representado por Sérgio Widder, chegou a enviar carta à Viradouro pedindo que a escola desistisse da idéia de usar a alegoria.

JORNAIS NOTICIAM A POLÊMICA

A polêmica do carro alegórico da Viradouro ganhou o noticiário de diversos jornais do mundo. Assim que a Justiça se pronunciou contra o carro, o diário ‘The Jerusalem Post’ estampou a notícia da liminar expedida pela juíza Juliana Kalichsztein em seu site. Ainda em Israel, o ‘Haaretz’ também divulgou a decisão. A notícia é acompanhada de uma grande foto da escultura dos corpos nus e esqueléticos que deveriam compor o carro.

A rede de TV americana CNN publicou igualmente em seu site o veto ao carro alegórico. A reportagem foi veiculada à tarde, antes de a escola se pronunciar oficialmente e a assessora de imprensa da Viradouro era citada negando a intenção de excluir a alegoria. “Nós não vimos a liminar”, afirmou.

“Não haverá nenhuma pilha de corpos despidos e mutilados, e nenhum Hitler dançando, no maior Carnaval do mundo”, diz matéria do ‘Herald Review’, de Illinois, nos EUA. A rede de TV britânica BBC também deu destaque para a reação da Federação Israelita depois que o grupo soube que representação de Adolf Hitler seria destaque em cima da alegoria.


5 MINUTOS: ‘ESTÁ MAIS PARA GLORIFICAÇÃO DO NAZISMO’

1— Como o senhor recebeu a notícia de que uma escola de samba do Rio iria levar para a Avenida imagens que faziam referência ao Holocausto?
— Com muita surpresa. Esse tipo de comportamento não é habitual. É muito estranho. Não conseguimos entender como seria possível manter o clima de festa com um carro cheio de corpos mutilados. Isso iria arruinar o Carnaval.

2— O carnavalesco da Viradouro, Paulo Barros, disse que o carro seria uma homenagem às vítimas da tragédia. O senhor concorda com tal ponto de vista?
— Essa atitude está mais para a glorificação do nazismo do que para homenagem às vítimas dele.

3— Na sua opinião, o uso dessas imagens e a polêmica criada em torno da alegoria poderiam comprometer o Carnaval da escola este ano?
— Com esse pensamento ofensivo à memória das vítimas e aos sobreviventes do Holocausto, o máximo que a Viradouro conseguiria era ganhar prêmio do presidente do Irã (Mahmoud Ahmadinejad, que afirmou que a tragédia não existiu).

4 —A pressão imposta sobre a escola e a determinação da Justiça não podem ser comparadas a uma censura prévia?
—Isso não é uma questão de censura, e sim de boa fé. Este assunto já tinha passado do limite.

5— A mudança imposta pela Justiça a pedido da Fierj pode gerar mal-estar para a comunidade judaica no Brasil?
— Não acredito nisso. Qualquer pessoa de boa consciência se sentiria ofendida durante o desfile se fossem mantidas aquelas imagens horríveis.

SERGIO WIDDER, representante do Centro Simon Wiesenthal na América Latina

Reportagens de Flávia Salme, Josie Jerônimo, Mahomed Saigg, Rafael Cavalcanti e Pedro Moraes

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1/2/2008 17:17:00
Notícia F:
Artigo: Luis Carlos Magalhães critica veto do carro do Holocausto


Colunista analisa polêmica com a Viradouro e diz: 'um pedaço do carnaval de 2008 foi embora'



Luis Carlos Magalhães
(Colunista do Dia na Folia)


Há mais ou menos vinte anos eu fazia um trabalho sobre o movimento negro e fui conversar com Nei Lopes. O mestre deu uma boa aparada em meus pensamentos e me emprestou alguns livros. Disse que os marxistas simplificavam a questão racial no contexto da luta de classes, numa simplificação da qual ele discordava.

Foi num botequim de Vila Isabel que ouvi dele que “... só nós negros é que sabemos que são coisas muito diferentes”.

Não sou negro e também não sou judeu.

Lembrando as palavras do “professor” aí em cima, sei que não sei a dor que o povo judeu sente quando o holocausto é falado ou mostrado, seja lá onde for. O sacrifício de seus pais, de seus avós, ou de seus próprios. A suprema humilhação, covardia e submetimento.

Da mesma forma ninguém de minha genealogia foi açoitado, seqüestrado, amarrado atravessando o Atlântico, vomitando em si próprio, defecando sobre si mesmo, vendo seus iguais sendo atirados doentes ao mar, em uma viagem interminavelmente longa.

Tenho uma idéia do que pode ter sido aquilo e do suplício da escravidão. Da dor do açoite.

Se a alegoria da Viradouro era um brado de repúdio, como afirma a escola em sua defesa, ou se era um “escárnio”, “um espetáculo abominável para os sobreviventes...”, como afirmam os israelitas, ou a “banalização da barbárie”, na expressão da juíza, nunca saberemos. São juízos de valor. Muitos julgarão de uma forma, muitos julgarão de outra, é só esperar o resultado das enquetes dos sites carnavalescos.


Se o holocausto dos índios brasileiros, dos negros, são equiparáveis ou não... outro juízo de valor. Mas foram, e são mostrados no carnaval. De minha parte lamento o veto.


E aí pergunto: terá havido censura?


Haveria se o veto partisse do poder público diretamente, ou da igreja ou até da Liesa. Não foi isto.

Alguém, ou um grupo, se sentiu atingido e republicanamente acionou o poder judiciário. Se a juíza errou ou não, é também juízo de valor, só que, aqui, dentro da lei processual.

Cabe à escola cassar a decisão.

Essa é uma questão menor. Em defesa de carnavalesco, quero dizer que há um número i-ni-ma-gi-ná-vel de jovens que não só nunca viu, nenhuma única vez, a cena do Holocausto, como não tem idéia da razão de toda essa polêmica. Insisto, é um número inimaginável de jovens. Muitos deles estariam na Sapucaí. A alegoria estaria prestando um grande serviço à causa da Humanidade.


De minha parte, repito, lamento, mas lamento muito mesmo, com todo respeito a todo mundo aí em cima.

A primeira vez que vi a cena do holocausto foi no extinto cine Art Palácio Tijuca, na primeira ou segunda vez que entrei em um cinema. Nunca vou esquecer aquele dia.
Considero a maior cena de horror de toda a história da humanidade. Ou porque é mesmo ou porque foi tão exaustivamente divulgada, diferentemente dos genocídios de populações negras da áfrica, seja pela fome seja pelo flagelo da AIDS.

Considero que a cena, ou o carro, não acrescentaria tanto ao repúdio já tão consagrado, nem significaria tanto em desrespeito aos familiares das vítimas.

Não consigo imaginar a cena carnavalizável, me assustei quando a vi pela primeira vez no barracão. Não conheço a dramatização com Hitler, e nem se isto pesou mais que o próprio carro.

Se representaria um marco inesquecível do carnaval ou um marco de desastre de concepção, de equívoco maior do carnaval, um de seus piores momentos, só poderíamos saber lá, na hora, no exato momento em que o carro passasse, já escrevi isto antes.

O carnavalesco assumiu o risco, por isso é o que é hoje no cenário da festa: seu maior expoente e seu maior alvo de polêmicas.

Veríamos então algo nunca visto. O carnaval seria ele próprio testado em sua nova instância, colocado numa posição sem precedentes, tal o sentido e o significado que a escola quis dar à alegoria, tal a dramaticidade e a dor que o tema evoca. A verdade, a única verdade, e não juízos de valor, se revelaria ali. O carnaval revelaria a verdade.

Acho que um pedaço do carnaval de 2008 foi embora, ficou lá naquela escuridão do Fórum, junto com aquela papelada toda.

* Luis Carlos Magalhães é pesquisador de carnaval

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1/2/2008 19:40:00

Notícia G : Viradouro: Confira a justificativa do carro alegórico que vai substituir a alegoria do Holocausto





Rio - O carnavalesco Paulo Barros apresentou, na noite desta quinta, a justificativa do carro que irá substituir o do Holocausto. O nome da alegoria é "A execução da liberdade". O texto será enviado à Liga Independente das escolas de samba, como adendo ao material já entregue aos jurados. Na foto, o secretário de Turismo, Rubem Medina, visita o barracão e vê o novo carro sendo confeccionado.

Confira a íntegra do texto:
"A Viradouro subverte a tristeza e desnuda o horror da intolerância. O cerceamento da liberdade de expressão é o terreno mais fértil para que proliferem a violência, o desrespeito, a brutalidade, o extermínio.

Nem os algozes, nem as vítimas da trágica história da humanidade têm o direito de ocultar os fatos, entorpecer a memória. A proibição sumária da expressão artística é o primeiro passo em direção ao precipício: queimar livros, censurar filmes, destruir alegorias. Por trás de toda arbitrariedade, se esconde a mediocridade, a impossibilidade de vencer a força das idéias, e o que resta é dizimá-las.

A "execução da liberdade" é a quinta alegoria da Escola e percorre a avenida para lembrar que o extermínio pode ser a conseqüência do preconceito, da intolerância, do desrespeito à diversidade. Inicialmente concebida para representar um dos maiores genocídios da humanidade, o holocausto, o carro foi impedido de desfilar por mandato judicial da Federação Israelita do Rio de Janeiro, no dia 31 de janeiro de 2008.

Algumas reações de organismos nacionais e internacionais deixam clara a incompreensão de que o desfile das escolas de samba é um poderoso instrumento de divulgação de idéias, de sensibilização de corações e mentes de todo o planeta.

O carnaval foi apontado como "espaço inapropriado, em seu ambiente festivo", "desfile com música, mulheres e homens semi desnudos dançando alegremente face a recordação das vítimas do Holocausto", "um espetáculo abominável para os sobreviventes e suas famílias". É claro que houve a compreensão das intenções da escola, ou seja, alertar contra o genocídio de milhares de seres humanos.

A alegoria enquanto escultura, se exposta em uma bienal de arte seria aceita. Na avenida, se torna inadequada. Outras formas de arte retratam o holocausto, como o cinema, o teatro e as artes plásticas. As salas de cinema e os salões dos museus são os espaços mais adequados para que o povo reflita sobre as barbaridades do homem?

Considerar "escárnio" desfilar como tema tão contundente na Marquês de Sapucaí é descredenciar uma das mais importantes manifestações culturais brasileiras. Palco de lutas pela liberdade, a Avenida mostrou, ao longo de anos de desfile, a opressão contra negros e índios, a resistência dos migrantes nordestinos contra a miséria, a saga de heróis que foram mártires nas batalhas pela democracia.

O holocausto atingiu não apenas aos judeus, marcando a vida de comunistas, homossexuais, ciganos, deficientes mentais e físicos, intelectuais que discordavam do regime de Hitler, homens, mulheres e crianças que morreram brutalmente, vítimas do nazi-fascismo. A execução do direito de liberdade e a intolerância para com a diversidade cultural, ideológica e religiosa assassinou negros, índios, alquimistas, visionários.

A quinta alegoria da Viradouro, passará na Sapucaí representando um protesto contra todo o tipo de extermínio da vida e da liberdade. Não se conta a verdadeira história do homem só com poesia e prazer. As cicatrizes da alma são a melhor forma de proteção contra novas feridas".

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Notícia H: 3/2/2008 01:03:00

Viradouro: Carro fará alusão à censura


Quinta alegoria da Viradouro deverá monopolizar as atenções do público no Sambódromo


Rio -
Na virada de hoje para amanhã, quando começar o desfile da Unidos do Viradouro, todas as atenções estarão voltadas para o quinto carro alegórico da escola de Niterói. Batizado de ‘A Execução do Direito de Expressão’, o novo carro substituirá aquele que faria referência ao Holocausto — o extermínio de 6 milhões de judeus pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial — e que foi proibido de desfilar por uma liminar da juíza Juliana Kalichszteim a pedido da Federação Israelita do Rio de Janeiro (Fierj), após reportagem de O DIA.

Sexta-feira o secretário municipal de Turismo, Rubem Medina, visitou o barracão da Viradouro. Medina, que é judeu, disse que é a favor da liberdade de expressão, mas desaprovou a alegoria da escola: “Sou contra qualquer tipo de censura, mas o Holocausto não deve ser lembrado no Carnaval”. Se a Viradouro não cumprisse a determinação, pagaria multa de R$ 200 mil.

A idéia do carnavalesco Paulo Barros — expor os horrores dos campos de concentração em alegoria com corpos nus, esqueléticos e empilhados — logo suscitou protestos da comunidade judaica. O presidente da Fierj, Sérgio Niskier, chegou a dizer que temia que o carro causasse mal-estar na Avenida e tivesse repercussão negativa em todo o mundo ao banalizar as vítimas do nazismo. Por mais que o carnavalesco declarasse que o tema seria tratado de forma respeitosa, outros representantes judeus também demonstraram descontentamento. O carnavalesco da Grande Rio, Roberto Szaniecki, que é judeu polonês, foi um dos que afirmou não entender a mensagem idealizada pelo colega da Viradouro.

A polêmica envolvendo o carro da Viradouro cresceu ainda mais quando outra reportagem de O DIA informou que haveria um destaque representando Adolf Hitler.

Segundo a liminar da juíza, se algum componente desfilar fantasiado do ditador, a escola terá que desembolsar R$ 50 mil. O empresário Corintho Rodrigues, que interpretaria o líder nazista na alegoria, deverá interpretar outro personagem no carro sobre a censura.

Alegoria sobre Kama Sutra é polêmica

O enredo ‘É de arrepiar’, da Unidos da Viradouro, deve trazer pelo menos mais um carro alegório que promete causar rebuliço na Avenida. Trata-se do Kama Sutra, que retrata os milenares ensinamentos do livro indiano sobre posições sexuais.

Segundo a descrição feita na ficha técnica do enredo, a alegoria é uma ‘gigantesca cama que esconde casais fazendo amor’. Funcionários do barracão, por sua vez, explicam que o carro traz “mulheres sentadas no colo dos parceiros como se estivessem dançando o créu”.

O carro já causa preocupação em entidades ligadas à proteção dos jovens, como o Conselho Municipal da Criança e do Adolescente.

Esta não é a primeira vez que um carro alegório sobre Kama Sutra desfila no Sambódromo. Em 2004, o carnavalesco da Grande Rio, Joãosinho Trinta, se viu obrigado a cobrir seus carros por uma determinação da Justiça.

Jornalismo: profissão ou destino?

Exercício: Analise o texto abaixo e discuta as relações jornalista x empresa de notícias x sociedade x interesse público x notícias, avaliando as possíveis interelações entre cada componente dessa "equação".

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Jornalismo: profissão ou destino?




Por Sónia Clara Santos







Uma das principais características de um jornalista, sustentou Juan Luis Cebrián, é a sua curiosidade. Pierre Bourdieu, pelo seu lado, entende que «o jornalista é uma entidade abstracta que não existe; o que existe são jornalistas diferentes segundo o sexo, a idade, o nível de instrução, o jornal, o meio de comunicação".


Um jornalista acrescentamos nós, é tudo isso mais o local de onde olha o mundo, ou seja, ele observa-o através das suas lentes culturais e sociais, mas o seu ângulo de visão é determinado pelo local de onde olha, que é o seu posto de trabalho. Porém, o jornalista atinge a sua expressão e existência na forma como consegue afirmar-se profissionalmente e no modo como se relaciona com os restantes elementos da mesma cadeia jornalística.

Inevitavelmente, a ideia que um jornalista faz do exercício da profissão, o modo como a analisa e os caminhos que entende que ela deve seguir constituem também olhares fortemente influenciados pelo local de trabalho. Um órgão de comunicação pode ter os seus códigos próprios, uma cultura jornalística específica interiorizada por toda a redacção, mas a forma como cada jornalista se vê no interior dessa cadeia varia de acordo com ‘o terreno que pisa’. Desde logo nas relações entre centro e periferia, o que no domínio do jornalismo se traduz na distância e nas diferenças entre a sede e as delegações do respectivo órgão de comunicação, nas relações de poder entre esses dois pólos.

Numa época em que tanto se fala de globalização e tanto se especula sobre a substituição do jornal de papel pelo jornal informático; numa era em que a informação parece estar em toda a parte e se defende a especialização jornalística como via quase única e obrigatória para o sucesso profissional, consideramos oportuno abordar a prática do jornalismo, observando-a a partir do trabalho de uma delegação.

A rotina e as convenções podem dominar na produção diária de um jornal, mas escrever nunca deixará de ser um acto de cultura e imaginação.


Expectativas, mitos e realidades


Reflectir sobre a iniciação à prática profissional impõe que se comece pelas expectativas, é ao confrontá-las com a realidade que nascem as frustrações, estupefacções e os deslumbramentos. Nesse sentido, apesar do conhecimento teórico da actividade jornalística, as minhas expectativas sobre a prática situavam-se, ainda, em grande parte, ao nível da mitologia profissional dos jornalistas.



O mito da predestinação: nasce-se jornalista

Figura ao nível do senso comum e entre muitos profissionais, como um poderoso mito, a ideia de que "ser curioso é quanto basta e a escrita aprende-se escrevendo!".

Nada pode ser mais falso. Não basta saber escrever. Mas mesmo aceitando o pressuposto que as aptidões condicionam as escolhas profissionais – a curiosidade seria íman, mas é de tal forma comum que se torna irrelevante citá-la.

Fazer notícias e reportagens pode ser entendido como contar «estórias», próximo das formas discursivas da narrativa de ficção, exige imaginação e riqueza linguística é certo, mas exige também, o domínio das convenções narrativas determinadas não por critérios literários, mas antes por imperativos de espaço e tempo.

Por outro lado, a redacção de um jornal não é um local onde se inventam «estórias», as notícias têm o mundo real como referência, são construções discursivas a partir de acontecimentos (muito embora alguns deles sejam meros discursos). A redacção de um jornal, mesmo tratando-se de uma pequena delegação, é um lugar onde se chega a correr, com um bloco cheio de anotações, sem saber ao certo por onde começar, e mais ainda, um lugar onde chegam a toda a hora telefonemas, faxes, press releases, comunicados e outros meios de informação de organizações e pessoas, na expectativa de se tornarem notícia.

Esta constatação é suficiente para aniquilar um outro mito:



O jornalista caçador de notícias

À medida que as sociedades se complexizaram e as organizações foram tomando consciência do valor e importância da comunicação, foram organizando internamente os seus gabinetes de imprensa ou destacando pessoas que se transformaram nos principais promotores de acontecimentos, fazendo chegar à redacção toda a informação que consideram «noticiável».

Na prática, um jornalista está mais próximo de uma figura que amarrota e reduz rapidamente a lixo uma porção de papéis ou sentada em frente a um computador escreve nervosamente «estórias» que têm que estar prontas a horas de fechar a página.

De acordo com estudos assentes na observação de comportamentos em redacções e entrevistas a jornalistas (sociologia empírica abundante sobretudo nos Estados Unidos), a selecção do que pode ser noticiável assenta em critérios objectivos.

Significa isso que, face a cada informação recebida na redacção o jornalista se questiona sobre os critérios de selecção da notícia, cujo núcleo duro são os valores notícia, e os discute com os colegas antes de decidir? Seguramente não o faz.

Na verdade, para além da rapidez com que tem de decidir, a partir de uma leitura apressada (operação que era feita na redacção com fins pedagógicos), a possibilidade que cada acontecimento tem de se tornar notícia depende, em proporções de equilíbrio sempre discutíveis, tanto dos valores notícia substantivos como das rotinas produtivas do jornal e particularmente do espaço de que se dispõe diariamente, determinado em larga medida pela agenda.

As páginas do jornal são um espaço exíguo onde cada notícia tem de disputar um lugar que ganhará por mérito próprio e por demérito de outras.

Aparentemente, a avaliar pela informação que diariamente chegam a uma delegação através de faxes (inclusive as notícias pré-feitas de agência), a vida quotidiana – que é a origem/fonte de todas as notícias – fervilha de acontecimentos. Decidir o que deve ser notícia exige um trabalho de selecção que exclui infinitamente mais do que aproveita.

Os critérios de selecção articulados com as rotinas produtivas do jornal estão automatizados pelos jornalistas profissionais, portadores de uma cultura profissional e conhecedores da cultura da empresa. Mas para quem se inicia como estagiária é uma tarefa monstruosa, plena de hesitações e conflitos entre os conceitos de importância e interesse e a realidade do espaço e tempo disponíveis.

A observação da selecção diária, embora não tenha sido feita com instrumentos de análise tipificados, permitiu enquadrar teoricamente o conceito de «gatekeeper» e afirmar, intuitivamente, que as decisões do «gatekeeper» são tomadas «menos a partir de uma avaliação individual da "noticiabilidade" do que em relação a um conjunto de valores que incluem critérios, quer profissionais, quer organizativos, tais como a eficiência, a produção de notícias, a rapidez", como concluiu Robinson(1).

Em muitos momentos, pude verificar a validade duma vasta literatura de análise dos media, resumida na seguinte conclusão de Altheide(2): "A noticiabilidade de um acontecimento está habitualmente sujeita a desacordo mas depende sempre do interesse e das necessidades do órgão informativo e dos jornalistas.

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1 - Citado por Mauro Wolf, in Teorias da Comunicação, Lisboa, Presença, 1992.

2 - Idem, ibidem.


Fonte aqui

30.12.07

Servidor que levar resma de papel para casa deve ser demitido?

Seria um desvio de conduta? Seríamos a "sociedade do perdão" e da "vista grossa"?



Folha de S. Paulo - 30.07.07
Servidores punidos pela CGU chegam a 1,4 mil em 4 anos


Em 35% dos casos, servidor demitido pela União usou o cargo para obter vantagens
Dos 505 mil servidores federais, cerca de 23 mil respondem a processo administrativo por suspeita de praticar irregularidades


por ANDRÉA MICHAEL



Balanço feito pela CGU (Controladoria Geral da União) revela que nos quatro últimos anos foram demitidos 1.348 servidores públicos de carreira ou em cargo comissionado. O número representa um total de 4,1 demissões a cada cinco dias -em trajetória ascendente.

Se somadas as aposentadorias cassadas, chega a 1.431 o total de servidores punidos com as sanções que a CGU considera as mais drásticas.

Conforme o balanço, em 35% dos casos de demissões ou da cassação de aposentadorias, a irregularidade é o servidor usar do cargo para obter vantagem para si ou para um terceiro.

Pagamento de propina fica em último lugar, com 6,5% dos casos. Essa ocorrência, no entanto, aumentou de 4,20%, para 5,35% em 2005 e está em 8,54% neste ano.

Para o ministro-chefe da CGU, Jorge Hage, o incremento nos números se deve principalmente à criação, em 2005, de uma corregedoria para cada ministério. "Esse sistema já começou a mudar a cultura de impunidade na administração. Hoje, o Executivo não se limita a culpar o Judiciário pela impunidade. Ao contrário, temos aplicado as penalidades que a lei permite à própria administração, como as demissões e cassação de aposentadorias."

Desde sua criação, em 2003, a CGU busca ampliar os mecanismos de punição em caráter administrativo, que são, no mínimo, bem mais rápidos que os decorrentes de decisão judicial. A proporção média de tramitação é de um contra dez anos.

Segundo o procurador José Alfredo de Paula Silva, que integra a equipe da Procuradoria Geral da República, os processos penais por meio dos quais o servidor público que, por exemplo, frauda licitações em troca de pagamento de propina, acabam fulminados pela prescrição por conta dos sucessivos recursos em meio aos trâmites do Judiciário. "Em contrapartida, a administração pública, que observa o devido processo legal e a ampla defesa, é a previsão mais efetiva e célere de que dispomos nos nosso ordenamento", afirma José Alfredo.

Ministro e procurador concordam que o advogado de defesa do servidor é quem faz a diferença. "As leis processuais no Brasil admitem excrescências medievais. Um bom advogado não deixa um processo terminar em menos de vinte anos. E os corruptos podem pagar os melhores escritórios do país. Essa é a verdade. O resto é cinismo", diz Hage.

O número de demitidos inclui, por exemplo, o ex-servidor dos Correios Maurício Marinho, flagrado em 2005 recebendo R$ 3.000 em propina de um falso empresário.

Marinho foi alvo de processo administrativo. Demitido, ele trabalha em uma empresa de consultoria, em Brasília, e tenta voltar ao serviço público por meio de recurso à Justiça do Trabalho.

Outra demitida foi Maria da Penha Lino, indicada para um cargo em comissão como assessora do Ministério da Saúde. Em maio de 2006, ela foi presa sob a acusação de favorecer a máfia dos sanguessugas. Na ocasião, foi exonerada.

Depois de transcorrido processo administrativo, ela foi "destituída", termo para representar a demissão dos servidores que não integram os quadros. Ao mesmo tempo significa que eles estão proibidos de contratar com a administração pública por cinco anos.

Dos cerca de 505 mil servidores públicos federais, 23.253 mil (4,5%) respondem a processo administrativo disciplinar por suspeita de praticar irregularidades.

O presidente da Confederação dos Servidores Públicos Federais, Josemilton Costa, defende as sanções, desde que decorrentes do devido processo legal e sem viés político.

117 anos: TCU propõe cassar servidor por irregularidades pela primeira vez

Segundo sua assessoria, em 117 anos, o tribunal determinou só uma demissão, por abandono de emprego. Dois servidores do órgão são suspeitos de praticar irregularidades em benefício de empresas. Por esse motivo, em junho, o TCU concluiu propor a demissão de uma servidora e a cassação da aposentadoria de outro. A proposta depende de votação dos ministros, o que deve ocorrer até o fim de setembro.



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A partir do texto acima conceitue, segundo os valores, costumes e moral da atualidade o que é ética profissional, o que é desvio de conduta... Analisando o que mudou (ou não) nas últimas décadas (50 anos). Faça uma dissertação desenvolvendo o tema e não se esqueça de citar, ao final, as fontes consultadas. obrigada, Solange
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5.12.07

Nem criança escapa, de quem?

A revista VEJA na edição 2037, de 5 de dezembro de 2007, trouxe na página 149 a "matéria" (podemos considerar jornalismo sério este texto?) abaixo. A questão que toca é a condução do tema e dos fatos, independentemente de juízos de valor a favor ou contra.

Tarefa I:Assim, com base no texto "Nem criança escapa" elabore um texto sobre o mesmo tema trazendo os dois lados da questão. "A pregação marxista e a pregação capitalista são ideológicas".


Tarefa II: Analise a linguagem e os termos selecionados pelo repórter para escrever a matéria e indique em quais pontos ele se tornou parcial e sugira como poderia ter escrito de outra forma menos dirigida (tendenciosa).

Tarefa III: Ronaldo Soares ao sustentar a tese (papel que não é de repórter, e sim de articulista) de "pregação marxista" no colégio São Bento utiliza-se do mesmo expediente daquilo que critica. Comente.


________Bom trabalho!_________


Pregação marxista chega à 7ª série em tradicional colégio católico do Rio de Janeiro

por Ronaldo Soares



Quadrinhos usados em teste no São Bento: o capitalismo demonizado em sala de aula


O Colégio de São Bento é um dos mais prestigiados do Rio de Janeiro. Fundado em 1858, é conhecido pela qualidade de seu ensino, no qual valoriza particularmente os princípios da religião católica. Tem um rol de ex-alunos ilustres que inclui Clóvis Bevilacqua, o autor do antigo Código Civil brasileiro, e o compositor Heitor Villa-Lobos. É difícil imaginar palco mais improvável para a história que veio a público na semana passada, por meio da divulgação de um abaixo-assinado de pais e ex-alunos indignados. Um professor de geografia da instituição distribuiu, na 7ª série do ensino fundamental, uma apostila sobre o que seriam as origens, o desenvolvimento e as características atuais do sistema capitalista. Tudo ilustrado com quadrinhos como os que se vêem ao lado. São quatro páginas de pregação ideológica esquerdista e simplificações grosseiras e uma de teste para conferir se os alunos – crianças entre 12 e 13 anos – aprenderam a "lição". Qual seja: o capitalismo é um sistema intrinsecamente perverso, no qual os empresários não fazem nada a não ser fumar charutos e pensar em como explorar cada vez mais os trabalhadores. O lucro da atividade econômica é apresentado como um assalto a mão armada, com a legenda: "Lucro é tudo aquilo que o trabalhador produziu, mas não recebeu de volta".

O professor em questão chama-se Paulo Lívio. Dá aula no São Bento, no Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e em dois cursinhos pré-vestibulares, além de ser o coordenador de geografia do vestibular da UFRJ. É dos mais queridos pelos alunos do São Bento, o que só aumenta a irresponsabilidade da apostila que distribuiu. Crianças da 7a série não têm discernimento suficiente para identificar o que é apenas uma idiotice esquerdopata – caso da apostila do professor Lívio. Ao contrário. Estão numa idade em que o professor tem sobre elas grande influência e o que ensina é tido como verdade – ainda mais se o mestre em questão faz o tipo bonzinho. Edgar Flexa Ribeiro, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Rio de Janeiro (Sinepe-RJ) e dono do Andrews, outro colégio tradicional do Rio, afirma que alunos de 7ª série estão numa fase muito preliminar no desenvolvimento de sua capacidade crítica. Diz ele: "Não imagino que tipo de conhecimento pode resultar do emprego de um material como esse em sala de aula".


Lívio, o mestre, usou quadrinhos do livro Capitalismo para Principiantes, de Carlos Eduardo Novaes, da Editora Ática, que faz parte do Grupo Abril. Trata-se de um livro que se autodefine como uma "versão bem-humorada da história dos sistemas econômicos que levaram o povão para o buraco". Foi escrito nos anos 80 e está em sua 27ª edição. É utilizado em escolas como material paradidático. Pode-se discutir se é ou não uma boa escolha – e VEJA acredita que não é. Mas é completamente diferente retirar as ilustrações desse contexto de humor e utilizá-las numa apostila, juntamente com outras de um panfletarismo constrangedor. Uma das mais patéticas acompanha o seguinte texto: "O capitalismo é uma varinha de condão ao contrário: desencanta tudo o que toca". Se vivesse na ex-Berlim Ocidental, provavelmente o professor Lívio seria o único a saltar o Muro no contrafluxo, em direção à extinta Berlim comunista.

O reitor do São Bento, dom Tadeu de Albuquerque, tem uma justificativa que já se tornou clássica. A apostila-teste seria um método para despertar a reflexão dos alunos. "A visão que está ali não é necessariamente a do professor, é apenas uma forma de chamar a atenção dos alunos para o tema", diz. O teste foi aplicado em março e, em setembro, a mãe de um aluno queixou-se à direção do colégio. Segundo dom Tadeu, o próprio professor reconheceu a infelicidade da escolha e decidiu não utilizar mais o material. O colégio tinha dado o assunto por encerrado, o que fez o abade do Mosteiro de São Bento, dom Roberto Lopes, lamentar que dois meses depois a polêmica tenha se tornado pública. É fundamental, no entanto, que absurdos como esse venham à tona. Em boa parte das escolas brasileiras, privadas ou públicas, circulam livros com explícita propaganda ideológica, muitos com aval do Ministério da Educação. Que os pais fiquem de olho como os dos alunos do São Bento. O preço da omissão é criar uma legião de perfeitos idiotas latino-americanos.

30.11.07

A voz do PT - Diogo Mainardi

Atividade: Leia o texto do Diogo Mainardi (A Voz do PT) e localize os pontos do discurso que podem ser considerados irônicos (marca do autor). Aponte, também, os trechos que podem ser considerados "fatos objetivos".

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Por Diogo Mainardi



José Dirceu tem um blog. Quer saber quanto o iG gasta com ele? Eu também quero. Quer saber de quem é o dinheiro do iG? É seu, tonto! De quem mais poderia ser?

O iG pertence à Brasil Telecom. E a Brasil Telecom está na esfera dos fundos de pensão estatais. Eu já contei aqui na coluna como o lulismo tomou a Brasil Telecom de Daniel Dantas. Houve de tudo: financiamento ilegal de campanha, espionagem, chantagem, achaque e propina. Eu já contei também qual foi o papel de Lula na trama. Chega de me repetir. Quem quiser saber mais sobre o assunto, consulte o arquivo de VEJA. O que importa agora é como o iG está gastando seu dinheiro. E para onde ele está indo.

Luiz Gushiken é o ideólogo da propaganda lulista. Quando os fundos de pensão passaram a influir no iG, o portal se transformou na voz do PT. Caio Túlio Costa, aquele que Paulo Francis apelidou de "lagartixa pré-histórica", foi nomeado presidente do grupo em maio deste ano. De lá para cá, além de José Dirceu, foram contratados como comentaristas Franklin Martins, Paulo Henrique Amorim e Mino Carta. Todos eles na fase descendente de suas carreiras. Todos eles afinados com o DIP de Luiz Gushiken. Mais do que isso: Paulo Henrique Amorim e Mino Carta se engajaram pessoalmente na batalha comercial do lulismo contra Daniel Dantas. Quer saber quanto o iG paga a Franklin Martins? Entre 40 000 e 60.000 reais. Quer saber quanto ele paga pelo programa de Paulo Henrique Amorim? 80.000 reais.

O iG pode parecer pouca coisa. Mas é o terceiro maior portal do Brasil. Agora está pronto para difundir a propaganda do governo. O PT acaba de elaborar um documento em que pede uma "mudança nas leis para assegurar mais equilíbrio na cobertura da mídia eletrônica". Muita gente está alarmada com o documento. O temor é que, num segundo mandato, os lulistas atropelem as leis para tentar aumentar seu controle sobre a imprensa. O fato é que isso já aconteceu pelo menos uma vez neste mandato, quando a turma de Luiz Gushiken tomou de assalto o iG. O documento do PT fala em oferecer "incentivos econômicos para jornais e revistas independentes". Independente, para o PT, é José Dirceu. É Franklin Martins. É Paulo Henrique Amorim. É Mino Carta. É o assessor de imprensa de Delcídio Amaral, que tem um blog político no iG. Só falta o Luis Nassif. Essa é a turma que, segundo o PT, precisa de incentivos econômicos do Estado. Carta Capital sempre atacou Daniel Dantas. Acaba de ser recompensada por um acordo com o iG. De quanto? Eu quero saber.

Lula cantarolou a seguinte marchinha, como relatam os repórteres Eduardo Scolese e Leonencio Nossa no livro Viagens com o Presidente:

"Ei, José Dirceu,

devolve o dinheiro aí,

o dinheiro não é seu"

Lula conhece muito bem José Dirceu. Se diz que o dinheiro não é dele, é porque não é mesmo. Devolve o dinheiro aí, José Dirceu.

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Veja - Edição 1972 . 6 de setembro de 2006

20.9.07

Polêmica: reforma e unificação da Língua Portuguesa

A revista Veja, de 12 de setembro de 2007 (edição 2.025, ano 40, nr 36), trouxe na capa a manchete para a reportagem: "Falar e escrever certo" dentre outras chamadas. Outras pessoas "importantes" também teceram seus comentários a respeito da (há muito polêmica)reforma e unificação da Língua Portuguesa.


Por isso, resolvi trazer para discussão o tema, lançando abaixo dois artigos que, em tese, defendem opiniões contrárias.



Com base nos textos indicados ("Os novos códigos" e "Restaurar é preciso;
reformar não é preciso") e em outras pesquisas, desenvolva uma dissertação (expositivo-argumentativa) sobre o tema "reforma e unificação da língua portuguesa".


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"Cada ponto de vista é a vista de um ponto".


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Ponto de vista: Lya Luft
Os novos códigos



"Nem tudo o que é novo é positivo, nem
tudo o que é tradicional é melhor. Ou ainda
acenderíamos fogo esfregando pedrinhas,
no fundo obscuro de alguma caverna"



Linguagens são códigos, e com eles nos comunicamos. Vivemos segundo alguns, também, na vida diária. Segundo códigos de ética que no momento são objeto de verdadeira guerra entre nós. Se de um lado andamos de cabeça mais erguida nestes dias, porque ao menos um passo foi dado e temos quatro dezenas de réus em falcatruas variadas e graves, paira ainda certo receio de que tudo seja turvado por interesses políticos e artimanhas de compadres. Mas estamos mais esperançosos de que a verdade e a Justiça culpem os culpados e absolvam os inocentes.


Isso dito, vamos ao código que aqui me interessa, o da linguagem. O da comunicação, que na verdade é múltiplo, é muitos. Linguagem de cegos, linguagem de surdos, linguagem de namorados, as linguagens das famílias – em que determinadas palavras evocam cenas hilariantes ou tristes. Linguagens técnicas, linguagens profissionais, o jargão dos médicos, dos advogados, que precisa eventualmente ser traduzido para o comum mortal. Sem falar na linguagem das siglas que dominam o mundo, para as quais até dicionários já existem. E a linguagem técnica ligada às mais variadas ciências e meandros do universo tecnológico, no vasto e interessantíssimo leque das nossas capacidades e curiosidades.


Agora, surge uma preocupação com a linguagem abreviada e de caráter fonético usada em mensagens de computador, como nos chats. Os catastrofistas, de cabelo em pé, empunham a vassoura da faxina crítica. O receio é que os jovens, usando desse recurso que tem a ver com velocidade e economia, haveriam de desaprender, ou nunca aprender direito, o código do próprio idioma escrito. Receio infundado: somos capazes de dominar, na fala e na escrita, várias linguagens ao mesmo tempo e transitar entre elas com habilidade e até elegância em certos casos. Na escrita, lembrem-se, não há perigo de sotaque. Se pudéssemos dominar apenas um sistema de sinais escritos, aquele que aprendesse taquigrafia haveria de cometer mais erros de ortografia. Longe disso. Ao contrário, acredito – e os lingüistas talvez confirmem – que, de quanto mais recursos dispomos, melhor os usamos em cada ocasião.


Linguagem é a roupa da mente: não falamos em casa como falamos num discurso em ocasião solene nem falamos numa entrevista para conseguir emprego como falamos brincando com nossa turma na escola. E não falamos com um bebê de 2 anos como falamos com o médico ao qual estamos expondo nossos males. Somos melhores do que se pensa, mais hábeis e mais capazes, embora em geral a gente não tenha nem dê essa impressão de nós mesmos. Escrever com abreviaturas, siglas, formas enigmáticas aos desavisados é apenas uma maneira divertida, rápida, inteligente, econômica, criativa e, sim, um pouco secreta de estabelecer e cultivar laços cibernéticos, que podem confirmar amizades já existentes (falo com amigos distantes mais freqüentemente do que com o que mora no mesmo edifício) ou abrir a porta para novas relações. Que nem sempre são o lobo mau, embora crianças devam ser controladas e alertadas para doenças como pedofilia e outros males nesta nossa enferma sociedade. Conheço casais felizes que se encontraram num chat, e casais extraordinariamente infelizes que conviveram desde a adolescência.


É preciso dar uma chance às novidades e inovações, em lugar de criticar de saída ou prevenir-se contra, como se tudo o que é novo fosse primariamente mau. É como se fora da língua culta, a língua-padrão que é e deve ser usada em momentos mais sérios, todas as demais formas de comunicação fossem espúrias. Não sejamos chatíssimos senhores com odor de naftalina, ou damas enfiadas no espartilho do preconceito: sem ginga, sem alegria, sem abertura para o novo e o bom, por isso mesmo sem discernimento para o verdadeiramente mau.


Além de tudo, a língua, como os costumes, a vida, a sociedade e as culturas, no bom e no negativo, segue uma evolução que independe de nós, dos moralistas, dos puristas, dos gramáticos, dos donos da verdade, dos que seguram o facho da razão numa das mãos e na outra o chicote da censura. Nem tudo o que é novo é positivo, nem tudo o que é tradicional é melhor. Ou ainda acenderíamos fogo esfregando pedrinhas, no fundo obscuro de alguma caverna.

Lya Luft é escritora

Texto disponível em http://veja.abril.com.br/120907/ponto_de_vista.shtml acessado 27 setembro 2007. Edição da Veja de 12/09/2007

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Artigo: Reinaldo Azevedo
Restaurar é preciso;
reformar não é preciso




A reforma ortográfica que se pretende é um pequeno passo (atrás) para os países lusófonos e um grande salto para quem vai lucrar com ela. O assunto me enche, a um só tempo, de indignação e preguiça. O Brasil está na vanguarda dessa militância estúpida. Por que estamos sempre fazendo tudo pelo avesso? Não precisamos de reforma nenhuma. Precisamos é de restauração. Explico-me.


A moda chegou por aqui na década de 70, espalhou-se como praga divina e contribuiu para formar gerações de analfabetos funcionais: as escolas renunciaram à gramática e, em seu lugar, passaram a ensinar uma certa "Comunicação e Expressão", pouco importando o que isso significasse conceitualmente em sua grosseira redundância. Na prática, o aluno não precisava mais saber o que era um substantivo; bastava, dizia-se, que soubesse empregá-lo com eficiência e, atenção para a palavra mágica, "criatividade". As aulas de sintaxe – sim, leitor, a tal "análise sintática", lembra-se? – cederam espaço à "interpretação de texto", exercício energúmeno que consiste em submeter o que se leu a perífrases – reescrever o mesmo, mas com excesso de palavras, sempre mais imprecisas. O ensino crítico do português foi assaltado pelo chamado "uso criativo" da língua. Para ser didático: se ela fosse pintura, em vez de ensinar o estudante a ver um quadro, o professor se esforçaria para torná-lo um Rafael ou um Picasso. Se fosse música, em vez de treinar o seu ouvido, tentaria transformá-lo num Mozart ou num Beethoven. Como se vê, era o anúncio de um desastre.


Os nossos Machados de Assis, Drummonds e Padres Vieiras "do povo" não apareceram. Em contrapartida, o analfabetismo funcional expandiu-se célere. Se fosse pintura, seria garrancho. Se fosse música, seria a do Bonde do Tigrão. É só gramática o que falta às nossas escolas? Ora, é certo que não. O país fez uma opção – ainda em curso e atravessando vários governos, em várias esferas – pela massificação de ensino, num entendimento muito particular de democratização: em vez de se criarem as condições para que, vá lá, as massas tivessem acesso ao conhecimento superior, rebaixaram-se as exigências para atingir índices robustos de escolarização. Na prova do Enem aplicada no mês passado, havia uma miserável questão próxima da gramática. Se Lula tivesse feito o exame, teria chegado à conclusão de que a escola, de fato, não lhe fez nenhuma falta. Isso não é democracia, mas vulgaridade, populismo e má-fé.


Não é só a língua portuguesa que está submetida a esse vexame, é claro. As demais disciplinas passaram e passam pela mesma depredação. A escola brasileira é uma lástima. Mas é nessa área, sem dúvida, que a mistificação atingiu o estado de arte. Literalmente. Aulas de português se transformam em debates, em que o aluno é convidado (santo Deus!) a fazer, como eles dizem, "colocações" e a "se expressar". Que diabo! Há gente que não tem inclinação para a pintura, para a música e para a literatura. Na verdade, os talentos artísticos são a exceção, não a regra. Os nossos estudantes têm de ser bons leitores e bons usuários da língua formal. E isso se consegue com o ensino de uma técnica, que passa, sim, pela conceituação, pela famigerada gramática. Precisamos dela até para entender o "Virundum". Veja só:


"Ouviram do Ipiranga
as margens plácidas /
De um povo heróico
o brado retumbante"

Quem ouviu o quê e onde, santo Deus? É "as margens plácidas" ou "às margens plácidas"? É perfeitamente possível ser feliz, é certo, sem saber que foram as margens plácidas do Rio Ipiranga que ouviram o brado retumbante de um povo heróico. Mas a felicidade, convenham, é um estado que pode ser atingido ignorando muito mais do que o hino. À medida que se renuncia às chaves e aos instrumentos que abrem as portas da dificuldade, faz-se a opção pelo mesquinho, pelo medíocre, pelo simplório.


As escolas brasileiras, deformadas por teorias avessas à cobrança de resultados – e o esquerdista Paulo Freire (1921-1997) prestou um desserviço gigantesco à causa –, perdem-se no proselitismo e na exaltação do chamado "universo do educando". Meu micro ameaçou travar em sinal de protesto por escrever essa expressão máxima da empulhação pedagógica. A origem da palavra "educação" é o verbo latino "duco", que significa "conduzir", "guiar" por um caminho. Com o acréscimo do prefixo "se", que significa afastamento, temos "seduco", origem de "seduzir", ou seja, "desviar" do caminho. A "educação", ao contrário do que prega certa pedagogia do miolo mole, é o contrário da "sedução". Quem nos seduz é a vida, são as suas exigências da hora, são as suas causas contingentes, passageiras, sem importância. É a disciplina que nos devolve ao caminho, à educação.


Professores de português e literatura vivem hoje pressionados pela idéia de "seduzir", não de "educar". Em vez de destrincharem o objeto direto dos catorze primeiros versos que abrem Os Lusíadas, apenas o texto mais importante da língua portuguesa, dão um pé no traseiro de Camões (1524-1580), mandam o poeta caolho cantar sua namoradinha chinesa em outra barcarola e oferecem, sei lá, facilidades da MPB – como se a própria MPB já não fosse, em nossa esplêndida decadência, um registro também distante das "massas". Mas nunca deixem de contar com a astúcia do governo Lula. Na citada prova do Enem, houve uma "modernização" das referências: em vez de Chico Buarque, Engenheiros do Hawaii; em vez de Caetano Veloso, Titãs. Na próxima, é o caso de recorrer ao funk de MC Catra: "O bagulho tá sério / vai rolar o adultério / paran, paran, paran / paran, paran...".


Precisamos de restauração, não de mais mudanças. Veja acima, no par de palavras "educação/sedução", quanto o aluno perde ao ser privado da etimologia, um conhecimento fascinante. As reformas ortográficas, acreditem, empobrecem a língua. Não democratizam, só obscurecem o sentido. Uma coisa boba como cassar o "p" de "exce(p)ção" cria ao leitor comum dificuldades para que perceba que ali está a raiz de "excepcional"; quantos são os brasileiros que relacionam "caráter" a "característica" – por que deveriam os portugueses abrir mão do seu "carácter"? O que um usuário da nossa língua perderia se, em vez de "ciência", escrevesse "sciência", o que lhe permitiria reconhecer na palavra "consciência" aquela mesma raiz?


Veja o caso do francês, uma língua que prima não por letras, mas por sílabas "inúteis", não pronunciadas. E, no entanto, os sempre revolucionários franceses fizeram a opção pela conservação. Uma proposta recente de reforma foi unanimemente rejeitada, à direita e à esquerda. Foi mais fácil cortar cabeças no país do que letras. A ortografia de Voltaire (1694-1778) está mais próxima do francês contemporâneo do que está Machado de Assis do português vigente no Brasil. O ditador soviético Stálin (1879-1953) era metido a lingüista. Num rasgo de consciência sobre o mal que os comunistas fizeram, é dono de uma frase interessante: "Fizemos a revolução, mas preservamos a bela língua russa". Ora, dirão: este senhor é um mau exemplo. Também acho. O diabo é que ele se tornou referência de política, não de conservação da língua...


Já que uma restauração eficaz é, eu sei, inviável, optemos ao menos pela educação, não por uma nova e inútil reforma. O pretexto, ademais, é energúmeno. Como escreveu magnificamente o poeta português Fernando Pessoa (1888-1935), houve o tempo em que a terra surgiu, redonda, do azul profundo, unida pelo mar das grandes navegações. Um mar "portuguez" (ele grafou com "z"). Hoje, os países lusófonos estão separados pela mesma língua, que foi se fazendo história. A unidade só tem passado. E nenhum futuro.


Disponível em http://veja.abril.com.br/120907/p_098.shtml acessado em 19 setembro 2007.

14.5.07

Arte para questionar... Banksy














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Grafiteiro anônimo é hype da arte britânica

Pintura de Banksy alcançou US$ 576 mil; painel destruído valia US$ 600 mil

Artista guerrilheiro esconde identidade da mídia; suas obras são colecionadas por celebridades de Hollywood, como o casal Jolie-Pitt

TEREZA NOVAES
Pouco se sabe sobre o novo queridinho da arte britânica: ele atende por Banksy e começou a carreira grafitando muros e trens nos arredores de Bristol, em 1993. No mais, faltam dados biográficos básicos, como o ano de nascimento (1974 ou 1978), nome completo (especula-se que seja Robert Banks), a cidade natal e a de residência. Seu rosto é desconhecido, mas seu trabalho faz parte do dia-a-dia dos ingleses.
Um painel do artista, paródia de uma cena do filme "Pulp Fiction", de Quentin Tarantino, foi apagado por funcionários do metrô de Londres no mês passado. Vizinhos e fãs se revoltaram contra a atitude.
O metrô rebateu: o grafite dava uma atmosfera de abandono e decadência ao local, ao lado da estação Old Street, na região central da cidade.
A obra, que mostrava Samuel L. Jackson e John Travolta empunhando bananas no lugar de armas, estava avaliada em US$ 600 mil (R$ 1,2 milhão).Não foi a primeira nem será a última obra assinada por ele que desaparece. Os grafites feitos em 2005 no muro que separa Israel da Cisjordânia não existem mais. Os desenhos misturam paisagens idílicas e idéias de liberdade e fuga, como janelas, escadas e balões de gás.
CelebridadesFora das ruas, o artista faz fama em Hollywood. Uma exposição dele organizada em Los Angeles atraiu compradores como o casal Angelina Jolie e Brad Pitt. Eles levaram um Banksy original por cerca de US$ 500 mil (R$ 1 milhão).
O valor é próximo ao seu recorde de preço, US$ 576 mil (R$ 1,17 milhão), alcançado há duas semanas em um leilão, com a pintura "Space Girl and Bird". Cifras muito altas para um artista jovem e que se mantém no anonimato.
Para comparação: em 1997, ano da exposição "Sensation", que lançou toda uma nova geração britânica ao estrelado, uma tela do expoente Damien Hirst foi vendida por US$ 53 mil (R$ 107 mil). Outro exemplo: uma pintura do consagrado ex-grafiteiro americano Jean-Michel Basquiat (1960-88) foi negociada por US$ 315 mil, em fevereiro deste ano.
Apesar do sucesso comercial, Banksy tenta se distanciar da imagem de artista em ascensão e ironiza os seus compradores.No começo deste ano, quando a pintura "Bombing Middle England" foi arrematada na Sotheby's por US$ 202 mil (R$ 409 mil), ele postou em seu site (www.banksy.co.uk) um desenho com os dizeres: "Não posso acreditar que esses idiotas compraram esta merda".
O desenho virou uma série de pôsteres vendidos no site Pictures on Walls (www.picturesonwalls.com), com preços entre 250 libras (R$ 1.000) e 650 libras (R$ 2.600), já esgotada. (O único pôster disponível do artista é "Soup Can", uma referência explícita a Andy Warhol, uma pilha de latas de sopa da marca do supermercado Tesco. Custa 10 libras, R$ 40.)
"O dinheiro que meu trabalho faz hoje me deixa um pouco desconfortável, mas é um problema fácil de ser resolvido -é só parar de nhenhenhém e doar tudo. Não acho possível fazer arte sobre um mundo cheio de pobreza e depois levar todo o lucro, é uma ironia muito grande, até mesmo para mim", disse Banksy, em rara entrevista, por e-mail, para a revista "New Yorker".
A atitude rebelde é coerente com algumas de suas ações "terroristas". Em julho passado, por exemplo, ele pirateou 500 CDs de Paris Hilton. Fez novos remixes, trocou o nome das faixas e a foto da socialite pela de um cachorro. Os CDs foram colocados em prateleiras de 48 lojas do Reino Unido e vendidos como originais.
Banksy "atacou" ainda vários museus, colocando obra de sua autoria no meio do acervo, sem autorização. No Louvre, uma versão "smile face" da "Monalisa"; no MoMa, em Nova York, uma gravura com a lata de sopa Tesco (exposta durante seis dias, sem que o museu percebesse a intrusa); e no British Museum, uma pedra da era "pós-catatônica", com o desenho de um homem, um touro e um carrinho de supermercado, que permaneceu oito dias em exibição. A instituição só retirou o objeto depois de ser alertada pelo site do artista.

13.5.07

9.5.07

Filme: Boa Noite e Boa Sorte

por Edson Barros

"Apesar de ser o segundo filme com as mais importantes indicações ao Oscar deste ano (perdendo apenas para O Segredo de Brokeback Mountain), Boa Noite e Boa Sorte, dirigido pelo ator George Clooney, estreou em um número restrito de salas no Brasil.


Essa distribuição limitada não deve ser confundida com qualquer falta qualidade cinematográfica da obra, muito pelo contrário. O filme faz jus às seis indicações que recebeu: melhor filme, diretor, ator, roteiro original, fotografia e direção de arte - e pode surpreender, ficando com as estatuetas principais.


O pequeno número de salas deve-se, isso sim, à convicção dos exibidores de que o tema - uma acirrada luta pela liberdade de imprensa nos Estados Unidos dos anos 50 - talvez tenha pouco apelo por aqui. Isso não deixa de ser verdade: Boa Noite e Boa Sorte, um dos filmes mais prestigiados de 2005, aposta em uma narrativa por vezes complexa, não tendo, portanto, a fórmula ideal para atrair o grande público.


No longa, Clooney retrata o embate entre o lendário jornalista norte-americano Edward R. Murrow (David Strathairn, com merecidíssima indicação ao Oscar), âncora do programa de TV da CBS “See it Now” (algo como Veja Agora), e o senador Joseph McCarthy, que nos Estados Unidos pós-segunda guerra mundial incitou uma verdadeira - e infundada - caça às bruxas a qualquer pessoa suspeita de flertar com o comunismo.


Clooney, que interpreta o jornalista Fred Friendly - o braço direito de Murrow - situa o espectador praticamente o tempo todo dentro da redação da CBS, mostrando os bastidores de uma das mais importantes batalhas jornalísticas da história americana.

Em uma montagem que muitas vezes lembra a de um documentário - apoiada pelabela fotografia em preto e branco - o filme se beneficia da firmeza da interpretação de Strathairn como Murrow e recorre às imagens de arquivo da TV da época para retratar o senador McCarthy. Talvez nenhum ator fosse mesmo mais eficiente que o próprio McCarthy para estampar toda a sua insensatez.


A obra tem ainda o mérito de levantar questões universais, como a importância do direito de discordar e o próprio papel da TV para o crescimento das nações. A pressão exercida – e muito bem mostrada no filme - sobre o jornalista Murrow e sua equipe esclarece o quanto é difícil manter a liberdade de expressão em mídias invariavelmente sustentadas por anunciantes (que podem desaparecer automaticamente dependendo do conteúdo abordado).


Por fim, o discurso de Murrow ao receber uma homenagem – já nos momentos finais do filme – alerta como poucos sobre o papel da TV (para o bem e para o mal) na formação das sociedades. Esta reflexão, por si só, já faz valer o ingresso. "

Fonte aqui